sábado, 30 de janeiro de 2010

20 ANOS COMO ADVOGADO

Quando alguém que me conhece apenas como escritor, poeta ou professor; ou mesmo quando nada sabe de mim e me vê distraidamente, quando esse alguém descobre que sou advogado, sempre toma um susto. Minha resposta habitual é dizer: mas ser advogado é minha primeira natureza. A primeira coisa que fui na vida foi advogado. Mesmo que já escrevesse alguma coisa na adolescência, apenas com 30 anos publiquei. O Direito, ao contrário chegou para mim concretamente aos 17, quando entrei na faculdade da Universidade Católica de Salvador. Cheguei a fazer Comunicação na UFBA, por um ano, mas abandonei. Letras eu só faria anos depois, também na UFBA. E essa é uma história outra e mais transcendente.

Foi o Direito, sim, que veio primeiro e, aos 21 anos, tornei-me advogado. Minha primeira encarnação adulta. Bem, considero que fiquei adulto ainda muito tempo depois, desconfio até que esse ainda é um processo. O amadurecimento é todo dia. E quando se está maduro, cai-se do pé.

Enfim, dia 31 de janeiro de 2010 completam-se 20 anos de minha formatura. Muito tempo. E o tempo acaba por se sobrepor sobre todos os outros valores da vida, modificando-os, ampliando-os ou apagando-os. Ser advogado é minha identidade mais antiga, a primeira no tempo. Talvez não a que ficará depois de muito tempo que eu morrer. Escrevi uns poemas por aí... e com a poesia não se deve brincar, ela pode ser tão resistente quanto o tempo.

Sou um advogado e, como digo a meus alunos, quem é advogado pode ser qualquer coisa na vida. Eu me dedico a ser todas as identidades que desejo. Quero passar por todas, ser todas as coisas, pois a verdade é que, se existir isso de verdade, a verdade é estamos aqui só de passagem. Nós não ficamos, o que ficam são nossos caminhos abertos no mundo. Isso para aqueles que abrem caminhos. Os que apenas percorrem trilhas já abertas, esses não deixam no mundo uma marca sua. Eles não ferem a pele do planeta. Apenas quem se desvia da estrada e abre novas picadas na floresta é que pode permanecer nos rastros que deixa.


Foto de David Glat

6 comentários:

Sueli Maia (Mai) disse...

Se há excelência no poeta e escritor talvez a advocacia o tenha feito expert no direito à palavra bendita e às bem ditas palavras.
Surpreendente!
Jovem, muito jovem.
Abraços e parabéns!

P.S.

Além dos textos, gosto imenso de tuas fotografias - quase te pedi autorização para editar uma delas no texto que postei hoje.

Gerana Damulakis disse...

Marcus: me identifiquei com seu texto. Fui, primeiramente e jamais parei, uma leitora, mas uma leitora que escrevia poesia (tenho um livro horroroso de poemas). Sou graduada e pós-graduada (imagine só!) em Química. Nunca deixei a literatura, só que, quando estou com aqueles que foram meus colegas e seguem a profissão, seja no Polo Petroquímico, seja no Instituto de Química da UFBA (nossa casa), até minha voz muda; fala, então, aquela que é do mundo das ciências exatas, da química, da matemática e da física. A literatura, gosto de senti-la. A exatidão está na ciência.
Parabéns pelos seus 30 anos de formatura. Seguindo ou não, você é um advogado. Muito bacana, amigo meu.

Marcus Vinícius Rodrigues disse...

Mai, obrigado pelo jovem. Gosto muito de fotografa, mas as fotos que tenho postado ultimamente vale pela arte dos escultores. Eles são geniais. A minha na postagem é de David. Era uma brincadeira com o livro 3 vestidos..., acabamos usando outra foto. Ele é maravilhoso. As fotos do perfil e do título do blog são auto-retratos. programo a máquina para disparar em 10s e fico no foco.


Gerana,

Eu acho que nós temos muito em comum, embora eu nem de longe tenha a sua leitura... quanto mais crítica. Eu lhe admiro muito e fico sempre honrado com suas visitas. Beijos,
mv

[Farelos e Sílabas] disse...

===

Fazendo uma visitinha neste blog...

Vinte anos sulcando a terra, plantando sementes de justiça, vendo muitas delas germinar, esticar arbustos até virar árvore das grandes com fruto e tudo o mais... isso é fazer da estrada um arado. É dar sentido à existência, tornando a vida – e as sociedades dentro dela – tão férteis quanto a própria terra-chão...

Mesmo sem conhecê-lo, alguma coisa me diz que a trajetória não foi em vão!

Parabéns!

===

Marcus Vinícius Rodrigues disse...

obrigado, Farelo e sílabas. Tomara!

A FESTANÇA DO HORROR disse...

oi, marcus, achei vc novamente. Antes de mais nada, a foto da escultura é simplesmente maravilhosa. Quero uma estátua daquela pra mim. rsrsrs. Qto. às suas fotos, tbém muito legais.

o texto de abertura de seu blog me deixou novamente conflituado: tenho uma imagem de vc daqueles outros tempos, não necessariamente bons entre nós, diferentes. Me acostumei vê vc através daquele prisma; talvez um tanto insano (o prisma). Com o tempo, e outras tantas experiências, aprendi a gostar de vc. É um querido pra mim! Mas, esse texto???!!! É a persona do advogado que fala?! É o poeta que se sobrepõe?! Pode ser vc?! Como sempre, a mesma face de Janus (o advogado que pode ser qualquer coisa. E nós sabemos o k isso significa, não é?!). Cheio de açúcar, cláudio p.