quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Sobre o conto A TARDE DE UM FAUNO



“A tarde de um fauno”
Por Mariana Barbosa*
em 20/11/ 2014.


O conto, tal como diria Edgar Allan Poe, precisa trazer consigo algo cortante, provocar no leitor uma excitação capaz de nos tirar o fôlego, sair do eixo... eis o que encontraremos nas narrativas homoeróticas de Marcus Vinicius Rodrigues. Rodrigues mostra-nos a tensão narrativa composta pelo jogo entre libido/vida versus morte/agressividade. Nessa tensão encontraremos a dualidade do imaginário que constitui sentimentos opostos, mas que coexistem em meio a narrativas densas, transgressoras e, por fim, trágicas. Isto, pois, é o que submerge em “A tarde de um fauno”, cujo mistério que inicia a narrativa conduz a chave do conto. O autor parece brincar desde ao articular entre o profano e o sagrado, ao nominar a personagem tal como uma figura bíblica, ou quando descreve seu Davi revoando lugares altos e belos tal como vivesse em contos de fadas: um anseio quase infantil, articulado e transformado, transgressoramente, a partir de um olhar de voyeur sobre um Fauno possível graças ao poder sugestivo de um imaginário fértil. As personagens rodrigueanas nos conduzem ao encontro de figuras que nos tiram do lugar de conforto, dão vida aos nossos anseios mais íntimos, articulam percepções nas quais jamais ousamos sequer imaginar, nos possibilitam passear por caminhos desertos, mas que embebidos de incertezas, desejos, tesão... nos imprimem uma necessidade infinda de saborear cada página com uma doce e intensa vontade, para quem sabe descobrir os mistérios de suas estórias e o que poderíamos encontrar por trás delas.

*Mariana Barbosa é Mestra em Estudos Literários pela Universidade Estadual de Feira de Santana.

















quarta-feira, 1 de outubro de 2014

O SORRISO DE LAERTE (Alex Smões)



porque quando nos sonhos parecia
tudo bem melhor
não era
sonho.

parecia
bem melhor
que a vida
e não valia a pena
que escrevia e desenhava
à pena
a duras penas
não valia

a vida sem sentido
dá avisos
há vida pulsando
o tempo urge
e às vezes dói lembrar

então seguir em frente
desenhando  esquinas
com a ponta do salto o pivô
sabendo tudo muito sério
inclusive o sorriso estampado
e a lisura do vestido.

a moda agora é sóbria,
nós não podemos ser.

é uma questão política:
o contraste é estratégia
de quem milita a alegria.





O VESTIDO DE LAERTE


Dedicado a Laerte Coutinho


Um corpo que se mude, ainda que tarde,
de umas calças surradas para o vestido,
há muito ele sabe: vestir é impreciso.

E se esse corpo, por função, domina o risco
e tem firme a mão para o traço fino,
sua mudança de panos faz mais alarde.

Ele se veste e revela-se nova casa
e então se refaz um novo destino:
desenhar desejos mais despidos.

Um corpo que se trace nova forma,
um charme assim característico,
mais que transformar-se, faz arte.

Marcus Vinícius Rodrigues


(Poema feito a pedido do poeta Alex Simões)