domingo, 28 de março de 2010

S.O.T.E.R.Ó.P.O.L.I.S

Esta cidade,

que se despeja poente abaixo,

calçada de pedra,

antiga e moderna

no jeito de deslizar contorcida,

difíceis as subidas de suas ladeiras,

esta cidade não se salva.


Na forma como canta

sempre o sol que deita

e de como se espanta

do dia quente que a encontra

ainda no deleite do amor,


e esse homem

lhe contando as lendas

cativante e antigo,

e esse outro arrancando-lhe

o futuro do umbigo,


e a espera

nesta beira de terra

debruçada sobre o mar,

como aquela deusa vaidosa

ou aquela outra,


a face multiplicada nas águas

devastando o tempo

os seus mirantes cansados.


Esta cidade não se salva.

.

.

.

.

.


segunda-feira, 8 de março de 2010

sexta-feira, 5 de março de 2010

L'albatros par Charles Baudelaire

Souvent, pour s'amuser, les hommes d'équipage
Prennent des albatros, vastes oiseaux des mers,
Qui suivent, indolents compagnons de voyage,
Le navire glissant sur les gouffres amers.

A peine les ont-ils déposés sur les planches,
Que ces rois de l'azur, maladroits et honteux,
Laissent piteusement leurs grandes ailes blanches
Comme des avirons traîner à côté d'eux.

Ce voyageur ailé, comme il est gauche et veule!
Lui, naguère si beau, qu'il est comique et laid!
L'un agace son bec avec un brûle-gueule,
L'autre mime, en boitant, l'infirme qui volait!

Le Poète est semblable au prince des nuées
Qui hante la tempête et se rit de l'archer;
Exilé sur le sol au milieu des huées,
Ses ailes de géant l'empêchent de marcher.



O Albatroz
Tradução de Ivan Junqueira

Às vezes, por prazer, os homens da equipagem
Pegam um albatroz, imensa ave dos mares,
Que acompanha, indolente parceiro de viagem,
O navio a singrar por glaucos patamares.

Tão logo o estendem sobre as tábuas do convés,
O monarca do azul, canhestro e envergonhado,
Deixa pender, qual par de remos junto aos pés,
As asas em que fulge um branco imaculado.

Antes tão belo, como é feio na desgraça
Esse viajante agora flácido e acanhado!
Um, com o cachimbo, lhe enche o bico de fumaça,
Outro, a coxear, imita o enfermo outrora alado!

O Poeta se compara ao príncipe da altura
Que enfrenta os vendavais e ri da seta no ar;
Exilado no chão, em meio à turba obscura,
As asas de gigante impedem-no de andar.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Verlaine - Chanson d'automne

Les sanglots longs

Des violons

De l'automne

Blessent mon coeur

D'une langueur

Monotone.

Tout suffocant

Et blême, quand

Sonne l'heure,

Je me souviens

Des jours anciens

Et je pleure.

Et je m'en vais

Au vent mauvais

Qui m'emporte

Deçà, delà,

Pareil à la

Feuille morte.

terça-feira, 2 de março de 2010

Tempo de prosa

Dias cheios estes.
Ando ocupado com a tarefa de escrever um livro de contos, um livro que, talvez, ainda esse ano publique. Trata-se de um livro temático, composto por apenas sete contos. Ainda não posso falar o título nem do que se trata. Nem sei se vai dar certo! Agora há pouco, acabei o primeiro conto e, depois de muito pensar nele, acho que sua realização não ficou boa. terei de pensar melhor. Vai para a gaveta por enquanto. Imediatamente comecei outro que já estava pensado. Penso todos os contos antes, mas na hora de escrever mesmo é uma aventura, é quando você vai conhecendo melhor aquelas pessoas. Este, vejam só, pensei em fazer na primeira pessoa, mas já na segunda linha me traí e ele ficou na terceira pessoa. Vou colocar a seguir o primeiro parágrafo.
Comentem!

Não precisava de todos os sentidos para saber que a casa acordava, por isso não abria os olhos. Para quê? Sabia que as cortinas estavam fechadas e que sua mãe só viria bem mais tarde, quando tivesse certeza de que ele já tinha acordado, ou quando decidisse que ele deveria acordar. Então, ela entraria silenciosa no quarto, pegaria suas roupas sujas no chão e com cuidado verificaria se o pouco barulho que fez serviu para acordar o filho. Se não, abriria a janela deixando que o vento se encarregasse de balançar as cortinas e fazer entrar a luz da manhã. Hoje, ele sabia, ela viria bem mais tarde. Era preciso dormir muito, ela dissera na noite anterior, dormir sem pressa e só acordar depois que o mundo se acomodasse de novo. Ele dormiu pouco. Foi uma noite de sobressaltos em que do nono profundo despertava para o susto, como se algo lhe expulsasse dos sonhos. Nestes momentos acordado, a casa pulsava num silêncio despovoado. Ele tentava escutar a mãe, a tia e a avó em seus quartos, algum vestígio da noite que tiveram, mas nada ouvia. O cansaço logo vinha e o sono retornava. Toda a noite passou assim, até que reconheceu os primeiros barulhos da manhã.