quarta-feira, 1 de outubro de 2014

O SORRISO DE LAERTE (Alex Smões)



porque quando nos sonhos parecia
tudo bem melhor
não era
sonho.

parecia
bem melhor
que a vida
e não valia a pena
que escrevia e desenhava
à pena
a duras penas
não valia

a vida sem sentido
dá avisos
há vida pulsando
o tempo urge
e às vezes dói lembrar

então seguir em frente
desenhando  esquinas
com a ponta do salto o pivô
sabendo tudo muito sério
inclusive o sorriso estampado
e a lisura do vestido.

a moda agora é sóbria,
nós não podemos ser.

é uma questão política:
o contraste é estratégia
de quem milita a alegria.





O VESTIDO DE LAERTE


Dedicado a Laerte Coutinho


Um corpo que se mude, ainda que tarde,
de umas calças surradas para o vestido,
há muito ele sabe: vestir é impreciso.

E se esse corpo, por função, domina o risco
e tem firme a mão para o traço fino,
sua mudança de panos faz mais alarde.

Ele se veste e revela-se nova casa
e então se refaz um novo destino:
desenhar desejos mais despidos.

Um corpo que se trace nova forma,
um charme assim característico,
mais que transformar-se, faz arte.

Marcus Vinícius Rodrigues


(Poema feito a pedido do poeta Alex Simões)