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quarta-feira, 24 de junho de 2015
terça-feira, 23 de junho de 2015
sexta-feira, 5 de junho de 2015
EXERCÍCIO: O mesmo disco
Em uma das oficinas do Projeto Escritas em Trânsito, Carol Bensimon propôs os seguinte exercício: escrever um conto com estas frases retiradas de um conto de Caio Fernando Abreu: 1) Ué, você resolveu cuidar de mim, é? 2) O disco tá tocando de novo. Já ouvi esse pedaço. 3) Aqui embaixo diz Produced in China.
O
MESMO DISCO
Por Marcus Vinícius Rodrigues
— Ué, você resolveu cuidar de mim, é?
A mão pegajosa já estava em minhas
costas. Um cheiro cítrico entrou em meu nariz. Pensei que fosse laranja ou
tangerina.
— É essência de bergamota. Não
conhecia?
Não conhecia, mas sabia que mesmo que
não perguntasse nada, ia saber.
— É ótimo anti-inflamatório. Essa dor
logo passa.
As costas relaxavam. Um calorzinho
gostoso começava. Quase me arrependi da explosão. Podia ter tido mais
paciência.
— E alivia o estresse.
Mas a conversa recomeçou. Eu é que era
estressado, eu é que não tinha harmonia com a natureza. Eu é que precisava
abrir o chacra cardíaco, meditar numa luz verde.
— Da uma olhada na cor desse unguento.
Estendeu a mão para a frente do meu
rosto. Verde.
— Você vai ficar bom rapidinho.
As costas ou o chacra? Eu quis
perguntar, mas isso seria recomeçar a briga. Ia voltar aquela história toda do
IChing, sei lá quantos hexagramas, por que eu sou terra, porque não dá pra
viver sem saber a hora exata do nascimento. O mapa astral que nunca fiz, o
livro de Caio Fernando Abreu que eu nunca li, o seu Caio F., o irmãozinho da
Cristiane... já sei, já sei, nem preciso ler pra saber de todas as histórias,
mas eu precisava, insistia, era preciso
rever o lugar da emoção, ali pelas costas, a massagem por trás do peito, era preciso escutar Keith Jarret suavemente.
— O disco tá tocando de novo. Já ouvi
esse pedaço.
Levantou, foi trocar o disco, as mãos
verdes. Minha vontade era não deixar. Toda a sujeira verde que ficaria. Mas, se
fizesse isso, o disco não pararia de tocar e eu teria de ouvir tudo de novo. O
melhor era ficar quieto e esperar que aquela gosma toda entrasse pelas minhas
costas e abrisse de vez o chacra. Me
virei para encontrar o frasco, as costas tinham mesmo parado de doer. Era um
frasco pequeno e redondo, de vidro escuro, um profundo verde garrafa, sem
rótulos nas laterais, mas embaixo tinha uma etiqueta.
— Onde você encontrou isso?
— Na chapada, claro. É natural. Você devia ir comigo da próxima vez. Ia ser
ótimo para você.
O disco recomeçou. O outro lado. Vinis
tem dois lados, eu tinha esquecido. Eu sabia que não ia escapar sem luta. Então
eu disse:
— Aqui embaixo diz Produced in China.
* Enfiei uns trechos de Bruna Lombardi pelo meio.
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