domingo, 18 de janeiro de 2009

T í t u l o s

Adoro títulos. Antes de começar um texto, ficção ou não, tenho de definir o título, mesmo que ele mude depois. Neste livro da Coleção Cartas Bahianas, o título veio depois e teve a função de dar unidade aos contos e expressar o que é o livro: 3 VESTIDOS E MEU CORPO NU surgiu para explicar o travestimento que realizo no livro. São três contos em que me visto do estilo e da temática de escritoras. Como já disse antes, o objetivo é brincar com aquela questão que sempre surge quando alguém inicia uma carreira: quais os escritores que lhe influenciaram?

Os contos constantes no livro, porém, não têm títulos que eu possa dizer que sejam meus. A MAIS BELA FLOR DA ALMA é retirado do nome da escritora “homenageada”: Florbela Espanca. Seu nome verdadeiro era Florbela d’Alma. BRUTALMENTE BRUNA é o título menos bonito, mas funciona muito bem para o conto. Na verdade, quem dá o título é a narradora do conto, a atriz Bruna Bianchi, que pretende fazer uma Peça com esse nome. DEPOIS DO BAILE VERDE é um título da Lygia Fagundes Telles. O conto vem a ser uma continuação do seu conto Antes do baile verde. Por fim, o último conto, A NOITE DE CADA UM, embora não tenha uma referência explícita (com autoria nomeada), tem origem bem clara. É inspirado no romance de Julien Green CHAQUE HOMME DANS SA NUIT (cada homem em sua noite), título que, por sua vez, é retirado de um verso de Victor Hugo: chaque homme dans sa nuit s'en va vers sa lumière (em tradução bem livre: cada homem em sua noite dirige-se a sua própria luz. O própria não está no original, mas é o sentido que dou ao verso). Caminhando por este labirinto da intertextualidade, o meu conto cita um outro verso do mesmo poema de Hugo: un vent qui souffle/ Disperse nos destins (um vento que sopra dispersa nossos destinos), que define o final do conto. A abaixo o trecho completo de Ecrit em 1846 de Les contemplation, de Victor Hugo..

 

Puis vous m'avez perdu de vue; un vent qui souffle 
Disperse nos destins, nos jours, notre raison, 
Nos coeurs, aux quatre coins du livide horizon; 
Chaque homme dans sa nuit s'en va vers sa lumière. 

 

Depois, você me perdeu de vista; um vento que sopra

Dispersa nossos destinos, nosso dias, nossa razão,

Nossos corações, pelos quatro cantos do lívido horizonte;

Cada homem em sua noite dirige-se a sua própria luz.

 

Enfim, eu que gosto tanto de títulos e me orgulho de escolher bons títulos, neste livro sou dono apenas de um. 


                                .

.                                     

                                                                                                                 .

.                                                                                             

.

                                                                            .

Nenhum comentário: