Autores baianos lançam livros pela "Cartas Bahianas"
Içara Bahia, do A Tarde
Para ir de encontro à maré morna de publicações locais, estimuladas a partir de prêmios e editais culturais – que muitas vezes restringem o gênero e até o tema a ser tratado pelo autor –, a Editora P55 lança a coleção Cartas Bahianas, amanhã, às 19 horas, para viabilizar a divulgação de autores em livros. O evento acontece na livraria Tom do Saber.
Cartas Bahianas, assim, com “h” mesmo, é uma referência à escrita antiga, mesmo em tempos de novas normas e acordos ortográficos. “Escreviam assim antigamente. Resgatamos para mostrar que, ao mesmo tempo em que está se produzindo uma turma jovem, você não perde o vínculo com o antigo”, explica Claudius Portugal, responsável pela editora P55 e idealizador do projeto literário.
Liberdade – Os autores participantes representam a turma de novos escritores do cenário baiano. Nas páginas dos livros, que lembram o formato de um envelope, os temas retratados são livres e pessoais. Valem contos, prosas e poesias. Nas publicações, Marcus Vinícius Rodrigues, Adelice Souza e Vanessa Buffone expressam sentimentos e revelam verdadeiro apreço pela arte de escrever.
Marcus apresenta o primeiro livro em prosa escrito por ele. Intitulado 3 vestidos e meu corpo nu, o trabalho traz três contos inspirados nas escritoras Florbela Espanca, Bruna Lombardi e Lygia Fagundes Telles. O quarto e último conto é uma brincadeira com o leitor, como um jogo de esconde-esconde, em que ele disfarça o próprio estilo. “Tem influência de outro autor ali, escondida”. Para descobrir, “tem que ter repertório”, diz.
A diretora teatral Adelice traz Para uma certa Nina, resultado de uma viagem que fez pelo Nordeste, em 2005. No percurso, conheceu uma típica família sertaneja, logo após sofrer um acidente de carro. A matriarca encontrada, cheia de filhos, chamou a atenção de Adelice. Ela decidiu chamá-la de Nina. Uma mulher do sertão, uma “sertanina”. E decidiu ofertar os escritos. “É uma carta que eu envio para ela”, conta Adelice, que revela existir uma forte ligação entre o livro e a peça Jeremias, o Profeta da Chuva, que ela montará com o Núcleo de Teatro do TCA este ano.
Laboratório – Claudius também reforça a liberdade concedida aos escritores do projeto. Para ele, a coleção tem um caráter de laboratório. “Não adianta ficar preso a cânones. Por que seguir as regras, se isso não é algo obrigatório? ”, questiona o editor.
Tanto Marcus, quanto Adelice e Vanessa já foram contemplados com o Prêmio Braskem de Literatura, em anos distintos. Sejam com premiações como as da Funarte (Fundação Nacional das Artes), que disponibiliza bolsas de estímulo a criação literária, ou com a participação em editais promovidos por órgãos como a Fundação Cultural da Bahia – Funceb ou Fundação Pedro Calmon, o escritor precisa de recursos para produzir.
A coleção vai de encontro a isso, “pois não depende de patrocínio. É uma iniciativa particular da editora”, diz Marcus Vinícius. E completa: “Eu fico muito esperançoso de que as coisas aconteçam. Que não seja preciso ficar preso a editais e que eu posso falar das minhas coisas sem ninguém me podar”. O que vale é soltar a imaginação, sem barreiras e sem limites.
Lançamento da coleção Cartas Bahianas | Terça, 20, às 19h | Tom do Saber (3334-5677) | R. João Gomes, 249, Rio Vermelho
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