quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Dois poemas

Todo poeta tem poemas como esses abaixo: um de que todos gostam, que sempre é lembrado; e outro de que o poeta gosta muito, mas que não é percebido pelos outros.


POEMA DE QUE TODOS GOSTAM


Pipas


Todas as pipas que tive

não as vi voando

míope que sou.

Só o barbante suspenso,

o farelo de vidro.

No alto, puxando,

a pipa invisível.

vem voar comigo.

Hoje não. Estou de castigo.


POR QUE GOSTAM: o que alcança as pessoas é o tom de infância que o poema traz


POEMA DE QUE GOSTO


Ave


Parte-se no ar

a asa,

esvai-se

o voo exato.


Cai vermelha,

grave,

a ave.


rodopia

debate-se

parte-se

no piso.


Não sobrevivo.


POR QUE GOSTO: gosto do ritmo e da cena que é descrita. Ao mesmo tempo musical e visual. Talvez não seja um poema relevante, enfim, mas gosto muito.


foto minha

7 comentários:

Gerana Damulakis disse...

"Pipas" é um poema bem definido (é a expressão que me ocorre), com metáfora que os leitores acolhem facilmente para dentro de suas almas, espelham-se nela, compreendem e tomam o poema. É o poema que o leitor toma para si.

"Ave" é arte poética em grau mais elevado ainda. É um drama, cuja cena se formou na minha mente. Desculpe se ele é o poema que vc gosta, pois passou a ser meu também. Vc perdeu a posse dele.

Jamile Gonçalves disse...

No meu caso, os poemas de que gosto são os que servem como um 'lembrete' dos meus sentires.
Tento guardá-los em versos, e depois admirá-los ou envergonhar-me deles, quem sabe?

Flamarion Silva disse...

Gostei dos dois poemas. Este "Ave", achei-o excelente, pois vi nele dois dramas: o da ave caindo, e o drama de quem a vê cair, de quem sofre.
Abraço.

Marcus Vinícius Rodrigues disse...

Obrigado, Gerana, Jamile e Flamarion!!

Nilson disse...

Gostei dos dois também. Belíssimos, ambos. Tô aqu pensando nos meus de cada categoria. Te dou notícia em breve!

Marcus Vinícius Rodrigues disse...

Estou aguardando, Nilson

Kátia Borges disse...

Mandarei os meus. bj