


Todo poeta tem poemas como esses abaixo: um de que todos gostam, que sempre é lembrado; e outro de que o poeta gosta muito, mas que não é percebido pelos outros.
POEMA DE QUE TODOS GOSTAM
Pipas
Todas as pipas que tive
não as vi voando
míope que sou.
Só o barbante suspenso,
o farelo de vidro.
No alto, puxando,
a pipa invisível.
vem voar comigo.
Hoje não. Estou de castigo.
POR QUE GOSTAM: o que alcança as pessoas é o tom de infância que o poema traz
POEMA DE QUE GOSTO
Ave
Parte-se no ar
a asa,
esvai-se
o voo exato.
Cai vermelha,
grave,
a ave.
rodopia
debate-se
parte-se
no piso.
Não sobrevivo.
POR QUE GOSTO: gosto do ritmo e da cena que é descrita. Ao mesmo tempo musical e visual. Talvez não seja um poema relevante, enfim, mas gosto muito.
Não me faça ler este poema
cheio de frases secretas
e de tanta inteligência.
Não me obrigue a ler o verso
que algum filósofo sustenta
para me salvar da inércia.
Seja para mim mero poeta
de olhar o horizonte todo um dia
e me convidar a sentar ao cais.
E, então, faça do seu livro um barco,
do poema, velas e mastros
e deixe-me soprar.