sábado, 28 de fevereiro de 2009

VIAS

Toda via

tem seu andarilho incansável.

 

Todo andarilho tem um dia

de pousar à margem de um regato.

 

Todo regato é via

de não se andar.

 

Todo andarilho deveria

tentar o nado.

 

Todavia...

As reticências do poema VIAS atraíram minha atenção. Reticências sugerem caminhada, extensão... A própria poesia é andarilha, trilheira, percorre todas as vias, as viáveis e as nem tanto, a mão e a contra-mão. O poeta é um caminhador das palavras, o flâneur baudellairiano, caminha andando e sem andar também, com o pensamento condoreiro, anda por cima, por baixo e por dentro das coisas. Vias, de Marcus Vinícius Rodrigues, fala do entrave da poesia, da não-via, e , diante dele, escapa com uma palavra transbordante de movimento e fuga: todavia, ainda mais quando acompanhada de reticências. Aí, o poeta é a própria palavra, e esse é um momento de grande intensidade lírica no poema. E, então, o poema se abre para a dubiedade que todavia também traz, e não se fecha nunca, não acaba. Fecha-se os olhos e viaja-se com Vias ( e vê-se, também), tudo na imaginação. 

 

No texto: UMA MIRADA SOBRE OS NOVOS POETAS DA BAHIA: RETRATO POÉTICO DE UMA ERA DE INCERTEZAS, de LUCIANO RODRIGUES LIMA, Professor da UNEB e da UFBa


O poema se encontra no livro Pequeno inventário das ausências e na antologia Concerto lírico a quinze vozes: uma coletânea de novos poetas da Bahia.
.
.
.
.
.
.
.


Nenhum comentário: