Transcrição de comentário de Claudius Portugal sobre o livro
A ETERNIDADE DA MAÇÃ, veiculado na Rádio Educadora da Bahia
“Um
período de Brasil. O recorte da ditadura militar vista pelo olhar de estudantes
que passam da sua luta por liberdade e direitos para a guerrilha e, com isto, a
prisão, a tortura, a morte e o amor descritos por um narrador onisciente. Dito
assim, parece que já lemos muito disto anteriormente. Mas essas aqui são
histórias que, mesmo retratando um tempo cruel, mantêm a ternura, a densidade
com afeto, a crueldade pelo carinho e disto tematicamente realiza uma
diferença. Mesmo trazendo o rótulo de contos, sete ao total, possui o livro um
caráter romanesco ao trazer personagens e cenários que se revezam e constroem a
trama. Maria, Jerônimo, Carlos, Lúcia, os militares, os torturadores, a
família, a escola, a prisão, e tudo que esta produz. Estupro, pau-de-arara,
desaparecimento, uma estrutura circular que faz a leitura ir e vir pra
preencher o que o autor deixa como ação para o leitor absorver completamente a
história geral, em suas curtas narrativas. Com este tema, um painel de uma época, dos dramas pessoais ao
horror da força das armas, uma linguagem construída na clareza das palavras e
de suas cenas, A eternidade da maçã, de Marcus Vinícius Rodrigues, Editora
7Letras, obra vencedora do Prêmio Nacional da Academia de Letras da Bahia,
2016, nos traz no melhor de sua forma o autor como escritor de prosa, afirmando
o que já foi visto desde o seu primeiro livro, em 2001, Prêmio Copene/Fundação Casa
de Jorge Amado para autores inéditos. Este de poesia. De lá para cá foram mais
alguns livros — um de poemas, uma novela, três de contos — e
em cada, um tornando visível, principalmente na prosa, crescimento e segurança
na escrita que o marca, como já afirmava desde o início, como um dos nomes
representativos da Bahia neste século XXI. É lendo alguns autores, Marcus
Vinícius entre eles, que não corroboro com a ideia de que não há hoje uma
literatura vigorosa na Bahia. Há, e com
muita gente. O que se precisa é perder o colonialismo que carregamos de outras
praças, de eixos sudestinos, e deixarmos de lado com ela a preguiça, a frase
feita, como dizia Nelson Rodrigues, o complexo de vira-lata. Para que isto
aconteça seria bom iniciarmos conhecendo e lendo quem está escrevendo aqui e
agora na Bahia. A eternidade da maçã, de Marcus Vinícius é um bom começo.”
Claudius Portugal para o Multicultura da Rádio educadora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário