“A tarde de um fauno”
Por
Mariana Barbosa*
em
20/11/ 2014.
O conto,
tal como diria Edgar Allan Poe, precisa trazer consigo algo cortante, provocar
no leitor uma excitação capaz de nos tirar o fôlego, sair do eixo... eis o que
encontraremos nas narrativas homoeróticas de Marcus Vinicius Rodrigues.
Rodrigues mostra-nos a tensão narrativa composta pelo jogo entre libido/vida
versus morte/agressividade. Nessa tensão encontraremos a dualidade do
imaginário que constitui sentimentos opostos, mas que coexistem em meio a
narrativas densas, transgressoras e, por fim, trágicas. Isto, pois, é o que
submerge em “A tarde de um fauno”, cujo mistério que inicia a narrativa conduz
a chave do conto. O autor parece brincar desde ao articular entre o profano e o
sagrado, ao nominar a personagem tal como uma figura bíblica, ou quando
descreve seu Davi revoando lugares altos e belos tal como vivesse em contos de
fadas: um anseio quase infantil, articulado e transformado, transgressoramente,
a partir de um olhar de voyeur sobre
um Fauno possível graças ao poder sugestivo de um imaginário fértil. As
personagens rodrigueanas nos conduzem ao encontro de figuras que nos tiram do
lugar de conforto, dão vida aos nossos anseios mais íntimos, articulam
percepções nas quais jamais ousamos sequer imaginar, nos possibilitam passear
por caminhos desertos, mas que embebidos de incertezas, desejos, tesão... nos
imprimem uma necessidade infinda de saborear cada página com uma doce e intensa
vontade, para quem sabe descobrir os mistérios de suas estórias e o que
poderíamos encontrar por trás delas.
*Mariana
Barbosa é Mestra em Estudos Literários pela Universidade Estadual de Feira de
Santana.
