Meu amor é marinheiro
e não faz de mim porto qualquer
onde larga seus desejos.
Nem porto sou sequer,
que de natureza fugidia
também eu sou feito.
Mais que o mar e suas correntes,
submarinos quereres me navegam
ao mais fundo, abissal, leito.
De nossos encontros, eu e meu amor,
nascem borrascas incontroláveis,
maremotos, gigantes vagas.
Eu, o mar, ele, o barco altivo
que resiste e cede, afunda e emerge
entre o singrar e o naufrágio.
Meu amor capitaneia e decide
contra a onda sísmica, eu, que
sobre o barco arrebenta virgem.
Os céus se aproximam, precipitam raios,
toda a amplidão por todos os lados
se debruça a ver-nos enfim amar.
E, então, tudo acalma.
barco e oceano se reconciliam
em marulhos e carinhos e beijos.
Retorno ao fôlego compassado
qual maré respirando à costa
e ele volta ao caminho traçado.
Volta à praia, ao seguro porto da casa,
leva sorrisos pelo corpo, gargalhadas,
todas as risadas que pude lhe dar.